segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O que você anda escolhendo?


O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada’. Esse trecho faz parte do livro ‘O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio’, do velho e desbocado Bukowski, com trechos de seu diário escritos entre 1991 e 1994. Vinte anos se passaram e essas palavras continuam servindo para os dias atuais. Assim como muitas das músicas do Renato Russo. E do Cazuza. E do Raul. E de muitos outros nomes também.
A época é outra, mas as indagações permanecem – as dúvidas quanto ao amor, as dores da solidão, a banalização dos sentimentos, a supremacia da aparência, a perda de tempo com as trivialidades. Não, não é culpa da internet, do smartphone ou do tinder – embora eu acredite que essas ferramentas acabaram por amplificar e facilitar esse cenário – a culpa é nossa. O problema dessa agonia generalizada, dessa banalização dos sentimentos, desse circo todo é pura e exclusivamente nossa. As pessoas perderam o trato com as próximas, e não sei bem quando isso aconteceu, se foi na época de trocas de cartas ou quando eu mandava meu último whatsapp.
Já dizia Clarice: A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre. E concordo com o velho Buk, se parássemos para pensar nisso, quem sabe podíamos amenizar um pouco dessa agonia toda? Todo momento de nossaodia é uma escolha, e como disse o Jô Soares em entrevista recente: Escolher é perder sempre. Mas cabe a nós decidirmos o que vale a pena perder, já que não temos todo o tempo do mundo. Que diabos, nem ao menos sabemos quanto tempo nos resta!
Se cada escolha significa uma renúncia, não está em tempo de pensarmos melhor sobre nossas perdas? Em pensar menos no volume, na quantidade, e mais na qualidade daquilo que estamos escolhendo? Vários colegas ou um bom amigo? Várias risadas forçadas em uma festa ou uma noite com risadas sinceras de doer a barriga? Muitas transas vazias ou poucas transas com possibilidades do aconchego do depois? Que tal menos ‘doer’ e mais ‘doar’?
Não estou dizendo que devemos deixar de fazer outras coisas triviais. Não devemos ser sérios sempre, nem filosóficos sempre, nem ser altruísta sempre – mas aprendi que a vida nos da dois caminhos de aprendizagem: o da dor e o do amor. E enquanto eu puder escolher, fico com o segundo, ainda que pareça que ele dói às vezes, o caminho do amor é sempre a melhor opção. E já que não temos escolha sobre a morte, que ao menos a gente possa escolher as possibilidades que deixam a vida mais leve. Daqui a gente não leva muita coisa mesmo.
Cristina Souza

Li no www.obviousmag.org

3 comentários:

  1. A única certeza da vida é a morte. Porém, ela é totalmente enigmática para as pessoas. É o fim? Existe um depois? É um recomeço? A única coisa certa é que vamos morrer. Porém, essa informação pode nos impulsionar, inspirar, ou nos afogar em decepção. Eu gosto de pensar que estou fazendo tudo que posso para me soltar das amarras sociais. Mas às vezes é difícil se livrar das correntes, que já são tão parte de voce. Ok! Tudo no seu tempo, mas sem se esquecer que quem faz o nosso destino somos nós.

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    1. Isso, Jaqueline. Vc é quem escreve a história de sua vida. Capriche no texto.
      =)

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  2. Mariana da S. Bertocchi 15hrssegunda-feira, março 23, 2015

    Na maioria das vezes, as pessoas se prendem muito em não fazer coisas que elas na verdade queriam fazer. Falo por mim mesma. Eu estava pensando nesse assunto agora pouco, quando li esse texto. Nós temos que viver da maneira como queremos e como nos convém. Porque não sabemos se a vida é apenas essa que estamos agora. Como a própria autora falou, só temos certeza da morte. E antes que ela chegue, temos que aproveitar o que está ao nosso redor. Vamos rir mais, sair mais, ler mais, nos interessar mais e viver a vida como ela deve ser vivida: com alegria, amor e sabedoria. O lado do amor é sempre o melhor a seguir.

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