sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A dupla existência da verdade


Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um via as coisas com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão.
Fiquei confuso dessa dupla existência da verdade.

Fernando Pessoa  - Dica de Claudia Bolshaw, professora da PUC-Rio    Arte: Roberto Weigand

2 comentários:

  1. Esse relato é muito familiar; já presenciei várias vezes a mesma situação. Amigos que, após uma discussão, não cedem de jeito nenhum, seja por orgulho ou por teimosia infantil. Na opinião de cada um, estão certos e com a razão absoluta. Assim, só enxergam o próprio umbigo, a própria verdade, sem nem se colocar no lugar do outro. Será que vale a pena ficar zangado desse jeito um com outro por não aceitar uma verdade ou razão diferente da sua? Em proporções maiores, a amizade pode até acabar por casos assim. Então, porque não ser mais tolerante, mais paciente, mais AMIGO de verdade e procurar entender a discussão? Sou a favor da conversa, do passar a limpo sempre que necessário. Conversando educadamente e com argumentos sensatos, tudo fica mais fácil de ser resolvido, de ser deixado para trás e seguir em frente. É assim que amizades verdadeiras duram bastante, e é desse modo que todo mundo deveria (tentar) agir. O rancor não nos leva a lugar nenhum, muito menos dois amigos que deixam de se falar e tomam direções opostas.

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    1. Pedro, leia a postagem de hoje, dia 11/03. O texto da Eliane é longo mas fala exatamente sobre o tema.
      Vale cada vírgula, creia.
      =)

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