sábado, 4 de abril de 2015

Roube de qualquer lugar que resulte inspiração ou incendeie sua imaginação.

Devore filmes, música, livros, pinturas, poemas, fotos,
conversas, sonhos, árvores, arquitetura, placas de rua, nuvens, luz e sombras.
Escolha para roubar apenas coisas que falem diretamente à sua alma.
Se fizer isso, seu trabalho (e roubo) será autêntico.
A autenticidade é inestimável.
A originalidade não existe.
Não se dê ao trabalho de ocultar seu roubo – celebre-o se o quiser.
 Lembre o que Jean-Luc Godard disse:
 “Não importa de onde você tira as coisas – importa é para onde você as leva.” 
Roubei isto de Jim Jarmusch



Texto de Paul Arden,  in  'Tudo o que você pensa pense ao contrário'
Arte :   Mrzyk & Moriceau


18 comentários:

  1. Concordo plenamente com isso. O mundo é tão grande e efervescente que chega a ser fofa a ingenuidade de achar que podemos ser realmente originais. Nunca vamos pensar em algo que já não tenha sido pensado, sonhado ou vivido por outra pessoa, ainda mais considerando que vivemos em uma sociedade que estimula que enxerguemos tudo mais ou menos da mesma maneira. Escapar da padronização do pensamento é uma empreitada válida e difícil. A autenticidade do que criamos está justamente na "alma" de que o autor fala. As coisas se tornam 'originais' a partir do momento em que colocamos um pouco de nós nelas, em que as moldamos, repensamos, recriamos.
    Diante do texto, no entanto, só me veio à cabeça a frase de Schopenhauer "a tarefa não é tanto ver o que ninguém ainda viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê". A origem, o ponto de partida é o mesmo - a realidade comum -, mas o destino depende de cada um de nós.

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  2. Fernanda Merege - 13hrssábado, abril 04, 2015

    "Nada se cria, tudo se copia." Sempre ouvi essa frase e sempre me chamou muito a atenção. É engraçado reparar como os filmes que a gente vê e os livros que a gente lê podem parecer completamente originais e inéditos, mas, mal ou bem, sempre acabam recorrendo a temas, personagens e narrativas já conhecidas. E isso não significa que eles não sejam originais a seu modo; o bacana é justamente digerir a idéia e reutilizá-la de uma forma própria, nova (bem como o Manifesto Antropofágico propõe). Várias histórias me deixam encantada, mesmo sendo previsíveis, porque elas conseguem usar uma fórmula "batida" e ainda assim fazê-lo de forma encantadora e original. Agora mesmo estou lendo um livro chamado "Roube Como Um Artista", de um autor americano. O livro trata justamente de como devemos absorver o conteúdo criativo para inová-lo; o autor se preocupa em diferenciar o roubo bom do roubo ruim, e em passar certos truques aos leitores. É preciso treinar o olhar, mas quando conseguimos, o resultado pode ser espetacular :)

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  3. Daniel Massarani, 17hsábado, abril 04, 2015

    Faz todo o sentido! Não lembro exatamente qual o nome dessa teoria, se é que há um nome para ela, mas quando estava no ensino médio, um incrível professor de Filosofia que tive falou sobre a história dos elefantes laranjas voando por uma cidade. Você pode nunca ter visto um elefante laranja voando por uma cidade, mas você sabe como é um elefante, como é a cor laranja, como é o ato de voar e como é uma cidade. Logo, sua mente conecta todas essas imagens e você pode perfeitamente imaginar um elefante laranja voando por uma cidade. Sempre que escrevo algo, faço um rabisco despreocupado em meu caderno ou até invento uma história de ficção para entreter meu insaciável irmão de 8 anos, sinto um pouco de culpa, no primeiro momento, por achar que a minha criação está sempre inspirada em algum produto cultural que consumi recentemente. Mas logo lembro da história do elefante e percebo que não só é aceitável como é natural que nossas invenções sejam meras permutações de invenções alheias! Ás vezes me sinto pressionado para criar, criar, criar a todo momento. Sei que é importante, mas prefiro consumir. Consumir cultura de maneira natural e líquida, sem estabelecer metas ou discriminar gêneros. Dessa forma, imagino que o ato de criar virá mais naturalmente e tenho certeza que o resultado será mais rico e interessante.

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  4. Adoro esse conceito de "roubar", não é isso, afinal, que fazemos todos os dias e a todos os momentos? Não é isso que nos constrói e nos molda? Nada mais somos que o produto das nossas relações. Relações com o meio, relações com os outros, relação com a nossa cultura. O tempo todo nos apropriamos de discursos alheios e, o que é mais impressionante, nós os moldamos e os transformamos. Pegamos algo "roubado" e usado e transformamos em algo novo ou damos um ponto de vista diferente. O que é criar se não for pegar um apanhado de experiências que nos apropriamos durante toda a vida e conectá-las de forma diferente?
    Nossos maiores ídolos o fazem: O que seria da Nova Hollywood sem os filmes da Nouvelle Vague? O que seria do próprio Godard e outros diretores da Nouvelle Vague sem os filmes hollywoodianos de meados da década de 40? O que seria do Tarantino, diretor tão popular, sem aquele volume invejosamente gigantesco de filmes e referências que ele juntou durante a vida?
    Não seríamos nada sem o nosso entorno. Pouco moldaríamos e pouco modificaríamos, pois nada haveria para moldar e modificar.
    É, eu acho que também celebro meus próprios roubos. Mesmo que tenha roubado isso deste blog(que por sua vez roubou de Jim Jarmusch.

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  5. Anthonio Andreazza 15hdomingo, abril 05, 2015

    O conceito de roubar acho um pouco forte, acho que na realidade nós, artistas, pegamos emprestado sem autorização. Uso esse eufemismo porque penso que não utilizamos nada por inteiro, por mais que seja extremamente similar, o "roubo" na verdade acaba tendo a influencia de quem agora tem o conceito.
    Acho que as teorias de comportamento e antropologia demonstram como assimilamos as culturas que nos cercam, mas as adaptamos as nossas circunstancias. Lembro muito bem de ficar deslumbrado ao ver o quadro As Meninas de Velasquez, mas mais instigado ainda quando vi as leituras de Dalí e Picasso sobre elas. Todos nos utilizamos de uns aos outros para se reinventar, e o artista faz o que? Se reinventa constantemente, experimenta e busca uma identidade. Como fazer isso sem utilizar as influências?
    Acho que a autenticidade vem a partir da capacidade de se reinventar, "roubando" dos outros o que você acha que fará parte de você. Adotando e experimentando, como mais veremos nossa identidade?

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  6. Giulia Bruno (13h)domingo, abril 05, 2015

    A gente costuma copiar aquilo que, em nossa percepção, é bom , não é? Então, deveria ser um elogio e não uma ofensa. Por outro lado, imagino que deva ser difícil ver sua ideia copiada. Não sei, as vezes o autor teve um trabalhão e pode se sentir violado de alguma maneira. Por outro lado ainda, é preciso um olhar apurado e atento do mundo para perceber as belas ideias. Afinal, quando alguém vê, o próprio olhar é outro, logo, transforma. O que era seu deixa de ser no instante que o outro vê. Aliás, ninguém é capaz de executar a sua ideia como você. Assim como a maneira do outro é só do outro. Essa é a beleza. Por mais que o autor ame a sua ideia ela pode ser mudada e, muitas vezes, para melhor. É bom desapegar! Se quiser uma ideia só sua guarde na gaveta pois, do contrário, é que nem filho: colocou no mundo já deixou de ser seu.

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  7. Giovana Souza - 13hdomingo, abril 05, 2015

    Recentemente, li uma postagem no instagram que dizia: "The bad artists imitates. The great artists steal." E a verdade é essa mesmo! O tempo todo estamos sendo bombardeados por ideias incríveis e porcarias, mas no fim das contas, os que vão se destacar são aqueles que consigam melhor filtrar todo esse conteúdo. Uma grande prova disso é a forma como a cultura vai mudando e com ela os gostos. O que era feio fica bonito, o que era brega fica estiloso em um ciclo interminável. Cabe à gente, é claro, não se deixar levar pela "modinha" do momento e prestar atenção nos sinais da sociedade porque muitas vezes, o próximo grande estouro pode ser aquilo que era considera ridículo há alguns anos.

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  8. "A originalidade não existe." Acredito que transcender o paradigma da originalidade é fundamental para que o progresso, em qualquer meio de experimentação, seja livre de estereotipos. As pessoas tem medo de criar porque acham que vão acabar copiando algo que já existe, e com essa concepção é dificil compreender que a parte mais enriquecedora, que torna cada projeto único, está no processo, e não na coisa em si.

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  9. Gostaria de começar dizendo que: tudo o que eu digitar aqui pode ser substituído pela frase do Godard.
    No brasil gostam muito de usar o termo "antropofagia" para descrever a arte, isso pra mim é uma tentativa de mascarar a verdade; o artista é um ladrão, e se ele não estiver convicto disso não terá uma exploração plena de seu trabalho. Ele é o ladrão de jóias que rouba um colar de diamantes só para colocar-lo no pescoço de seu parceiro e rir na cara do estilista quando ele nos disser que está de cabeça para baixo. Toda arte é Ready-made, o artista é quem a vê e se apropria dela. Meu discurso pode estar parecendo que é apenas para roubar e usar aquilo que é dos outros. Não. quando roubamos tocamos e quando tocamos, mudamos e nessa mudança nasce o novo, o original.

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  10. Esse livro é muito bom! Pequeno, dá pra ler em meia hora. Mesmo assim, após o término, você fica pensando no pouco que leu por uns três dias. Comigo, pelo menos, foi assim. Relembrando esse texto do livro, creio que a originalidade exista sim: todo mundo é único, tem a sua própria personalidade, seu jeito, seu andar, seus mais cinzentos pensamentos e, acima de tudo, sua essência. Com tudo isso junto e misturado, cada um cria conforme a sua visão, à sua maneira. Assim, qualquer obra, objeto, livro ou ideia criada será de um jeito diferente, de um jeito original. Tudo bem, estas coisas podem exercer a mesma função, ter o mesmo objetivo, mas, no fundo, foram criadas de uma forma original, afinal ninguém cria do mesmo modo, cada um sempre dará o seu toque pessoal, nem que seja um mínimo detalhe, nem que seja algo diferente e autêntico. Enfim, para outra visão, similar a de Paul Arden, também vale a pena ler Roube Como um Artista, do Austin Kleon. O livro trata literalmente deste assunto e é igualmente intrigante.

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  11. Acho que é bom nos lembrarmos disso. Arte é furto (como disse Picasso). Tira um pouco de pressão na hora de criar. Pressão daquilo que você estar criando ser inovador e criativo e impactante. Temos a impressão de que as coisas que valem a pena serem ditas já foram ditas. Muitas vezes. E foram, realmente. Mas nem todo mundo estava ouvindo então elas precisam ser ditas de novo. Quem sabe desta vez com uma nova palavra roubada…

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  12. Nunca tinha lido isso. Mas gostei da mensagem! A ideia de que grandes ideias surgem de outras ideias é bastante autêntica. Afinal, quem seria Steve Jobs se o Bill Gates não tivesse inventado o computador pessoal? Jobs teve ideias maravilhosas mas que só se tornaram possíveis porque Gates já havia inventado o computador pessoal. E quem seria Gates se Alan Turing não tivesse inventado o computador? Ou seja, pegamos ideias geniais para criarmos outras mais incríveis ainda. É como um manifesto antropofágico, pegamos o que já existe, "mastigamos" e construímos algo novo. O segredo de criar é recriar, reinventar. Ter uma ideia nova é excelente, saber reinventar algo que já temos é sensacional.

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  13. Durante um curso que fiz em Londres sobre a historia da moda, esse assunto foi recorrente em muitas das aulas. A moda vive de inspiração. Na hora de criar, todo estilista irá se inspirar em algo que já foi criado antes, seja nas roupas antigas do século passado ou nas vestimentas de tribos africanas, ou até no que esta sendo usado hoje em dia. É impossível criar algo que seja essencialmente e completamente novo. Pois como humanos não temos a capacidade de conceber algo que nunca tenha existido, sempre teremos nos baseado em algo que já temos conhecimento. Na moda, a inspiração serve como exemplo, como ponto de partida para a criação de algo que seja inovador no mercado. E eu acho isso fantástico! Como tirar a inspiração de um objeto e torna-lo em uma obra de arte que pode ser usada. A moda é capaz de refletir muito os valores da sociedade, pois sempre se inspira em algo que tem valor artístico. Hoje em dia o debate entre verdadeiro e falso tem sido muito questionado pois no fim das contas a maioria das criações tem suas inspirações. Mas também é necessário bom senso, existe uma diferença entre se inspirar e copiar, e é ai que mora o perigo, quando as pessoas confundem inspiração por plagio e roubo do conteúdo criado por outro.

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  14. Leticia Fernandes 13hterça-feira, abril 07, 2015

    A originalidade é relativa pois estamos sempre submetidos a nossa inspiração, que surgiu a partir de algo. E ela é necessária, valida, inevitável. Tudo nos influencia. O roubo é autentico quando não temos medo de nos inspirar nos outros a fim de criar algo “nosso”. O eu não é feito de pedaços do outro? Pois então, assim é tudo aquilo que criamos.

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  15. Gisele Barros - 15hquarta-feira, abril 08, 2015

    Sempre tive essa sensação de que é necessário estar atento tudo que está a sua volta . Fico até triste quando deixo algo super interessante passar. Eu poderia fazer uma lista enorme de coisas que aprendi com pessoas que nem conhecia nas ruas, no ônibus, no meu dia a dia. Sempre que os dias ficam meio monótonos, realmente sem inspiração, fico com a certeza de que isso está acontecendo por que não conheci coisas novas e lugares novos como deveria. Bate até aquela sensação de que estou deixando a vida passar sem aproveitá-la como deveria. Acredito verdadeiramente que somos resultado daquilo que lemos, vemos, amamos, conhecemos e aprendemos! Aquele "clic" de uma ideia boa não cai do céu. Temos que correr atrás dele também!

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  16. Gabriela Gaia Meirelles - 15hsexta-feira, abril 10, 2015

    Antropofagismo cultural... Que coisa linda! Me lembro de ouvir pela primeira vez a professora de Literatura falar de um tal Movimento Antropofágico, e, a começar pelo nome, já fui me encantando. Concordo super com o texto.O artista, e mais ainda, o comunicador deve ter fome. Fome insaciável, fome voraz, atroz, constante. Em minha infantilidade, já cheguei sim a pensar que seria possível uma criação original, pura, ingênua, isenta de qualquer influência. Que nada! O bom mesmo é uma criação à lá brasileira, mulata boa, samba no pé, gingado de outros carnavais, colcha de retalho infinita em que se pega um pouco daqui, um pouco dalí, e voi lá, eis que surge algo. Que nós nos alimentemos sempre, e nos alimentemos muito - do orgânico ao fast food, tá tudo valendo. Afinal, tudo é texto, não é mesmo?!

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  17. Como em sua aula Favilla, bem que você disse que existe autores e coautores. Eu me admito sendo uma coautora; mas diferente do conceito de roubar que eu acho deveras forte, utilizo a palavra adquirir. O diretor de teatro Grotowski, em seu livro que eu li a pouco tempo, ''Em Busca do Teatro Pobre'', cria conteúdos interessantes para explicar a nossa sociedade. Somos todos envoltos de um mito - que é um modelo de conduta e de valores -, esse mito está presente em cada um criando a personalidade e as máscaras sociais e individuais. E como se criam essas máscaras? Pelas referências que temos do mundo, por cada observação minuciosa da vida ao nosso redor. E assim, faço entender da palavra adquirir, nós adquirimos o mundo em que fomos criados; transformando as nossas referências em criações puramente originais! Todos os autores e coautores se alimentam da mesma fonte que é a vida! As influências existem sim, mas não quer dizer que exista roubo, por exemplo, em alguns momentos escrevi poemas e certa vez, usei um poema de Cecília Meireles, chamado ''Bailarina'', como inspiração, aí vai:

    A Andorinha

    Esta andorinha
    Ro-sa-di-nha
    Quer abrir as asinhas

    Mas era muito bobinha
    Para deixar de ser pequenina
    Era o que sua mãe dizia

    A andorinha não sai do lugar
    Sacode, bate, sacode, bate,...
    Tem medo de voar

    Soletra o fá e o mi
    Se emburra no sol e no dó
    "Para de ser bobinha!"
    Sua mãe dizia

    Um dia, a andorinha soltou suas asinhas
    Foi em busca do sol ao nascer
    Entristeceu-se ao saber
    Que o que a impedia
    Era o dó de deixar sua mãezinha!

    :)

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    Respostas
    1. Excelente, senhorita autora. Está tudo escrito e criado por aí nas invisibilidades do mundo. Portanto, siga o que Arden ensinou: 'Roube de qualquer lugar que resulte inspiração ou incendeie sua imaginação'.
      =)

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