quarta-feira, 14 de novembro de 2018

As 36 situações dramáticas de Polti.

Georges Polti publicou em 1916 o livro “Les XXXVI situations dramatiques”, no qual, a partir das observações de Gozzi e de Goethe e da leitura de uma grande quantidade de textos dramáticos, ele estabelece as trinta e seis situações listadas abaixo. Polti lista diversas variações de cada situação e cita muitos exemplos delas (Há um estudo de Leonardo de Moraes que contém a maioria dessas variações - você pode baixá-lo aqui. A tradução inglesa do livro de Polti você encontra aqui.).

1. SÚPLICA - um Perseguidor, um Suplicante, um Poder indeciso
2. RESGATE OU LIBERTAÇÃO - Um Desafortunado, uma Ameaça, um Libertador
3. CRIME SEGUIDO DE VINGANÇA - um Vingador, um Criminoso
4. VINGANÇA DE PARENTE CONTRA PARENTE - um Parente vingador, um Parente culpado, (uma vítima), a recordação da vítima, uma relação familiar entre os dois
5. PERSEGUIÇÃO - um Castigo e um Fugitivo (fugir de um castigo)
6. DESASTRE - um Poder subjugado, um Inimigo vitorioso ou um Mensageiro
7. SER VÍTIMA DE CRUELDADE OU DE INFORTÚNIO - um Desafortunado, um Executor ou um Infortúnio
8. REVOLTA - um Tirano, um Conspirador
9. EMPREENDIMENTO AUDACIOSO - um Líder audacioso, um Objetivo, um Adversário
10. SEQÜESTRO - um Sequestrador, um Sequestrado, um Guardião
11. O ENIGMA - um Interrogante, um Investigador, um Problema (a resolver)
12. OBTENÇÃO - um Solicitante e um Adversário que recusa, ou
um Árbitro e as Partes opostas
13. INIMIZADE ENTRE PARENTES - um Parente malévolo e um Parente odiado ou Ódio recíproco entre parentes
14. RIVALIDADE ENTRE PARENTES - um Parente preferido, um Parente rejeitado, o Objeto da rivalidade
15. ADULTÉRIO ASSASSINO - dois Adúlteros, um Marido ou uma Esposa
16. LOUCURA - um Louco, uma Vítima
17. IMPRUDÊNCIA FATAL - um Imprudente, uma Vítima ou um Objeto perdido
18. CRIMES INVOLUNTÁRIOS POR AMOR - um Amante, um Amado, um Anunciador da revelação
19. ASSASSINATO DE UM PARENTE NÃO RECONHECIDO - um Assassino, uma Vítima não reconhecida
20. AUTO-SACRIFÍCIO POR UM IDEAL - um Herói, um Ideal, um "Bem" ou uma Pessoa ou uma Coisa sacrificada
21. AUTO-SACRIFÍCIO POR UM PARENTE - um Herói, um Parente, um "Bem" ou uma Pessoa ou uma Coisa sacrificada
22. SACRIFÍCIO DE TUDO POR UMA PAIXÃO - um Apaixonado, o Objeto da paixão fatal, a Pessoa ou Coisa sacrificada
23. NECESSIDADE DE SACRIFICAR SERES AMADOS - um Herói, uma Vítima amada, a Necessidade do sacrifício
24. RIVALIDADE ENTRE UM SUPERIOR E UM INFERIOR - um Rival superior, um Rival inferior, o Objeto da rivalidade
25. ADULTÉRIO - um Cônjuge traído, dois Adúlteros
26. CRIMES DE AMOR - um Amante, a Pessoa amada, (o Crime de amor)
27. DESCOBERTA DA DESONRA DE UM SER AMADO - um Descobridor, o Culpado
28. OBSTÁCULOS AO AMOR - dois Amantes, um Obstáculo
29. UM INIMIGO AMADO - um Inimigo amado, Aquele que ama, Aquele que odeia
30. AMBIÇÃO - Um Ambicioso, a Coisa cobiçada, um Adversário
31. CONFLITO COM UM DEUS - um Mortal, um Imortal
32. CIÚME EQUIVOCADO - um Ciumento, o Objeto de que ele tem ciúmes, o Suposto cúmplice, a Causa ou o Autor do engano
33. JULGAMENTO ERRADO - um Erro, a Vítima do erro, a Causa ou o Autor do erro, o Verdadeiro culpado
34. REMORSO - um Culpado, a Vítima ou a Culpa, o Interrogador
35. RESGATE DE UMA PESSOA PERDIDA - o Resgatador, um Reencontrado
36. PERDA DE PESSOAS AMADAS - um Familiar desgraçado, um Familiar que observa impotente, um Executor da desgraça
 In Polti, Georges. "The Thirty-Six Dramatic Situations", Writer's Digest, Cincinati, Ohio, 1931.  Arte: BOLIGAN


6 comentários:

  1. Matheus Feliciano 17hquarta-feira, novembro 21, 2012

    "Sacrifício de tudo por uma paixão". Não, não encontrei aquele "alguém" especial ainda e nem estou desesperado por uma nova paixão. Porém, eu posso dizer, com absoluta certeza, que eu sacrifiquei-me por uma paixão. Hoje eu, e um grupo de amigos, gravamos por várias horas um projeto audiovisual. Eu digo que esse projeto nasceu primeiro no meu coração e depois foi pra minha cabeça. Eu me apaixonei instintivamente pela história que escrevi e apostei nela todas as minha fichas. Era como uma namorada...eu queria passar o tempo com ela e pensava nela todos os dias. Ou como uma filha, que eu via crescer e desejava tudo de bom pra ela, a corrigindo enquanto desenvolvia-se. Uma ideia é uma paixão. Uma ideia só é boa quando você se apaixona por ela; uma criação só é perfeita quando ela tem algo de você nela....quando você consegue adaptar-se à sua ideia, apaixona-se...

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  2. João Pedro F. Diassábado, junho 22, 2013

    Quando comentei sobre essa tese com você em aula, corri para ver o post que tinha feito. Baixei o livro e o li "por alto" em 3 viagens. Fiquei devendo o comentário que aqui está. É incrível como ele é extremamente pontual. Talvez, como literatura, eu tivesse aproveitado melhor se conhecesse mais das referências que o Polti aponta, mas, transportando para o meu universo cultural, não consegui pensar em sequer uma trama que não fosse uma variação das possibilidades aqui apontadas. E olha que eu tentei achar uma lacuna - não deu.

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  3. alguém sabe se existe uma edição deste livro em português? preciso muito deste livro e não consigo encontrar.

    antonioviniciusmartinho@gmail.com

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  4. Anthonio Andreazza 15hdomingo, abril 05, 2015

    É interessante pensar como as situações da vida conseguem ser resumidas tão nitidamente. Acho que isso demonstra como o ser humano é parecido e os conflitos conseguem se resumir claramente, independente da cultura que esteja inserido. Em comparação com estudos de cena, acho que um ensinamento muitas vezes deixado de lado em outros ramos é o Objetivo de Cena e o o Objetivo do personagem em sua vida. Como ator, ambos devem estar muito bem estudados para que a interpretação seja genuina. Essa tese demonstra como a representação da vida pode ser simplificada, e com isso os atores conseguem a interpretar mais vividamente.

    Não sei como esse ensinamento não se traspõem claramente para outras áreas de comunicação. Para criadores uma referência como esta tese é de um valor imenso. Penso que leituras e analises das representações trazem um requinte à vida e não se deve as deixar de lado pois condensam situações, as simplificando. Essa clareza tende a faltar, mas sempre podemos tentar melhorá-la,

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  5. Fernanda Merege - 13hrsterça-feira, abril 07, 2015

    Ao mesmo tempo que acho bastante interessante a análise dos autores, acho um pouquinho obtusa. Sim, a vastíssima maioria das histórias que consumimos trata-se de uma fórmula pré-preparada, meio que um Nescau: dependendo dos ingredientes que você misturar, vai chegar a um bolo ou a um brigadeiro, mas o caminho a seguir já está delineado. E essas fórmulas, por mais que estejam em constante reutilização, podem continuar encantando por todo o sempre, contanto que se apresentem sempre de forma fresca, com diálogos, cenários e personagens diferentes. A sensação que tive lendo o texto deste post é que, ao mesmo tempo que os autores conseguiram sim demarcar algumas das narrativas que sempre vemos por aí, eles deixaram algumas outras de lado. Aonde um filme como Boyhood, por exemplo, se encaixaria? É um coming-of-age, gênero que adoro e que pode sim contar com intrigas e lados opostos, mas que, por uma razão ou outra, vai além daquela formulazinha inicial. É justamente esse "além" que faz a diferença. Outro ponto que reparei é que os gêneros delimitados pelos autores, muitas vezes são complementares, e não necessariamente divergentes. É possível que haja mais de uma das citadas emoções em uma única narrativa. É o exemplo de filmes como Crash ou Simplesmente Amor, que misturam vários sentimentos para entregar uma única mensagem. Acho que no final das contas, o que marca mais é a mensagem que está sendo comunicada, o sentimento. Este sim é capaz de definir o algo mais e permitir que uma obra vá além da fórmula.

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  6. Antes de qualquer coisa: muito interessante! Adoro esse estudo em metanarrativas ( como o que o Campbell e até o Jung fazem). Após ler a lista uma coisa fica clara: tudo se resumo em uma equação, temos um lado positivo (ou ativo) somado a um lado negativo ( ou passivo) e o "algo" que os une ( um objeto, motivação, etc). Aglutinando os fatores temos uma narrativa. Essa seria a abstração máxima (quase um vídeo do Webdriver Torso) que permeia qualquer uma de nossas histórias, essa simplicidade é de uma beleza impressionante, pois, nos permite criar literalmente qualquer narrativa com níveis de profundidade variáveis. Não preciso nem dizer que vou colar essa lista na parede do meu quarto, estou realmente entusiasmado com ela.

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