Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: - Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

"Este menino é mesmo um caso de poesia." Me identifico nessa frase, primeiro porque assim que vi a imagem pensei em um peixe (muito errado, concordo, mas... fazer o quê?) depois, passei a ver um pássaro e ai sim pude ver que era uma pedra e penas. Acho incrível a capacidade de reflexão e abstração do cérebro humano. Em uma só imagem, tive três interpretações diferentes. E tenho certeza, que outras pessoas teriam interpretações diferentes das minhas. É aquela boa frase que diz que não existe verdade absoluta, as pessoas vêem o que querem ver.
ResponderExcluirPode ser fruto de uma imaginação fértil, mas observei muito nesse texto a relação moderna entre pais e filhos.
ResponderExcluirVenho observado frequentemente pais impondo limites a imaginação de seus filhos, e ao invés de incentivar e até mesmo se juntar ao mundo ficcional das crianças, eles reprimem. Uma pena que uma fase tão marcante da vida (onde a imaginação aflora de uma forma tão espetacular) seja hoje em dia marcada por brincadeiras em aparelhos eletrônicos.
Saudades de quanto brincar era dar utilidades ao objetos banais da casa da sua avó.
Bem-vinda, Renata.
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Tem uma frase do Picasso que eu acho que se enquadra perfeitamente aqui: "Toda criança é artista. O desafio é manter-se artista depois de crescido." Os esforços da mãe (no texto) de reprimir as falas do menino demonstram esse desafio. Ao crescermos e sermos educados somos “formatados” e perdemos essa visão gloriosa e criativa do mundo para ganhar uma visão lógica e analítica. Somos pressionados a nos conformar a um padrão, matando o artista que existe em cada um de nós. Lembrei-me do curta-metragem de animação que vimos em sala de aula— não nos permitimos ser criança e viver no momento. Eu quero um mundo onde crianças permanecem poetas e pessoas estão dispostas a perderem seus compromissos para dar aulas de como voar a passarinhos.
ResponderExcluirA visão de criança, a visão que tanto tentamos reprimir para crescermos, virarmos adultos; essa é o caso de poesia que esse menino tem, obviamente. Nós, artistas, não podemos nos deixar se restringir pela visão que domina o mundo, não podemos nos moldar ao que a sociedade espera de nós. Temos que viver, e vivendo e nos mostrando, conseguimos eventualmente mudar os parametros da sociedade. Me identifico muito com esse conceito de restrição da imaginação e consultando os especialistas na norma, os médicos, para diagnosticar o "problema" dos filhos, quando na verdade ele é um artista.
ResponderExcluirIsso me lembra quando eu tinha meus dez anos de idade e minha mãe me levou ao psicológo, por conselho da supervisora pedagógica do colégio, porque desde já eu tinha problemas com matemática e números. Ela fazia exercícios comigo que consistiam basicamente em achar pares de figuras que se completam, formas iguais e eu não acertava nenhuma de primeira. Só depois de muita insistência ela conseguia extrair algo "certo" de mim. Quando me perguntava porque eu escolhia aquelas respostas, respondia coisas como "o triângulo não precisa de outro igual a ele, o círculo pode ser um par melhor". No fim do dia minha mãe perguntou como eu tinha me saído e tudo que ela disse foi que eu não tinha nenhum grande problema de aprendizado, só era muito criativa. =)
ResponderExcluir=)
ExcluirAchei legal o texto, porque ele é bem simples e direto, mas dá um recado importante. O menino não estava mentindo, estava inventando. Eu sou daquelas que acha que, pelo menos de vez em quando, devemos embarcar em brincadeiras e invenções, porque elas são expressões de criatividade. Eu, desde criança, vivi com um pé na realidade e outro Deus sabe aonde; qualquer coisa é capaz de me dar uma idéia diferente, e eu acho isso ótimo, espero nunca perder essa qualidade. E acho legal o que o texto mostra; muitas vezes podemos estar olhando com os olhos errados, como a mãe de Paulo. O filho dela não era maluco nem mentiroso, era criativo, coisa que deve ser incentivada, e não examinada :)
ResponderExcluirSer poeta é mesmo um caso gravíssimo no tempo em que vivemos. Fantasiar virou coisa de bobo. "Usar nosso tempo para criar o que não existe na vida real? Nem pensar. Vamos ocupar nossas mentes com esses padrões perfeitos transmitidos o tempo todo. Vamos ser conscientes em tudo que fizermos. Não vamos gastar nossa energia para mostrar quem somos de verdade, se podemos ser quem quisermos nas redes sociais."
ResponderExcluirMais do mesmo, é disso que é a nossa sociedade. As pessoas não estão mais preparadas para o lúdico, para o romance. Elas nem sequer sabem mais como reagir ao imaginário, pois estão condicionadas aos números, às máquinas. Estão engessadas e cegas diante da Arte, se proibiram de ver, se proibiram de sentir. As palmeiras agora são só árvores e o sabiá só uma ave. :((
Poesia em forma de prosa, Melissa. Lindo comentário.
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