(publicado no http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/)
"Eu sou desenhista de mão livre, faço rostos, charges, com lápis, caneta, aquarela, tudo”, conta Dutra, que há cinco anos frequenta a PUC-Rio – não como aluno de design, mas como segurança da universidade. Poucos saberiam disso, não fosse pelo projeto Amigos Ocultos, criado pelas alunas de Comunicação Social Duda Monteiro, de 20 anos, e Ana Luísa Ferraz, de 21, para dar visibilidade aos funcionários da universidade.
– É impossível imaginar um único dia na universidade sem os funcionários da limpeza, do refeitório, do elevador. Mas quando foi a última vez que conversou com algum? E seus nomes, sabe quais são? A resposta na maioria das vezes é negativa. Por isso criamos a página – conta Duda.
As histórias e fotos colhidas pela dupla (ou pelos colaboradores Wendy Andrade e Luciana Morin) são publicadas na página do projeto no Facebook, que já conta com mais de 3,3 mil curtidas desde que foi lançada, em novembro de 2014. A ideia surgiu durante a aula de Técnicas de Comunicação II do professor Luiz Favilla, em outubro. Duda, no 5º período de cinema, conta que elas acreditavam na força do projeto, mas nunca pensaram que daria tão certo:
– A ideia inicial foi da Ana, e eu apoiei depois de perceber que via mais essas pessoas durante a semana do que minha própria mãe, e nunca soube seus nomes. Acho que a aceitação foi grande porque os alunos passaram a reparar como essas pessoas estão muito presentes no nosso dia-a-dia.
Em dezembro, a reportagem do Portal acompanhou Duda na abordagem a Dona Paulina, funcionária da limpeza que se mostrou bastante surpresa ao ser abordada. Quando percebeu o interesse de Duda por sua vida fora do trabalho, o brilho em seu olhar ficou evidente, bem como o sorriso. “É? Então vamos conversar, vamos ali para a sombra”, chamou, com sua voz marcante, antes de começar a contar um pouco da realidade que vive:
– Moro no Vidigal, então não é difícil vir para cá. A única coisa ruim de morar lá, assim como em várias outras favelas, é quando as crianças estão nervosas, com dedo no gatilho. Eu chamo de criança porque elas não sabem o que fazem. Olha, nega, é complicado. A gente tem que se esconder debaixo da pia, porque eles atiram e a bala vai pra qualquer canto, não tem direção.
Entre os diversos personagens que aparecem na página, alguns são reconhecidos facilmente pelos alunos, como Jonas, atendente do Fastway. Ele está sempre contando piadas, improvisando no inglês e cantarolando entre um pão de queijo e outro que serve.
– Eu gosto de divertir as pessoas, tento deixar o dia delas mais feliz. Um dia um menino chegou aquicansadão, dizendo que tinha virado a noite estudando e não tinha ido bem na prova. Eu já cheguei com um “good morning, can I help you?”, disse a ele pra ficar calmo, que ia dar tudo certo, e o garoto saiu rindo. É isso que eu adoro fazer.
Um dos objetivos principais do projeto é dar destaque à vida dos funcionários para além do trabalho, com foco no que anseiam e sonham. “Sonho? Ai, tenho muitos... Não sei se você vai entender, mas eu sonho muito em ser feliz”, respondeu Sara, ascensorista do elevador do prédio Kennedy.
Tanto Duda como Ana Luísa acreditam que que o projeto está cumprindo esse papel, embora alguns não consigam falar de si sem atrelar-se ao ambiente da PUC. Uns divertem, como Giba, o ascensorista do prédio Kennedy, contando o que faz quando não está trabalhando: “Farra, como sempre. Não dá para esperar morrer, né? Tem que ficar no agito”. Outros tocam as estudantes pela falta de perspectivas, a dureza da vida:
– Perguntamos a Seu Pascoal, funcionário da limpeza dos jardins: “Qual o seu maior sonho?”. Ele respondeu, singelo: “À noite, sonho que estou atrasado para o trabalho”.
A indiferença por parte dos alunos é sentida, mas as amigas Ângela e Sandra, auxiliares de serviços gerais, não se intimidam:
– Ah, comigo é assim: passou, não falou? Eu dou “bom dia” até a pessoa responder. Quando fui trabalhar no setor, uma colega falou assim: “Olha, você não fala com aluno e professor”. “Por quê?”, perguntei. E ela: “Porque eles não dão bom dia”. E eu disse: “Pois eu vou dar bom dia para eles!”. Entendeu? Eu acho isso muito importante.
– O melhor de tudo isso foi perceber que cada pessoa é um mundo, cada um tem seus sonhos, suas alegrias e, principalmente, suas conquistas. Tenho muito orgulho de fazer parte disso e de poder mostrar a todo mundo que, muitas vezes, um “bom dia” muda o dia de alguém.









Acompanho a página do "Amigos Ocultos PUC-Rio" desde que foi lançada. A ideia é incrível! Dá voz a um pessoal que, muitas das vezes, só espera um mero bom dia, ou um boa noite das pessoas. Além disso, é muito interessante ver a diversidade de depoimentos! Cada um tem seu sonho, sua perspectiva de vida, seus costumes, sua maneira de buscar a felicidade... e é exatamente isso que nos torna humanos. Quando o Diógenes teve a oportunidade de conhecer o Boechat, aposto que, pelo menos, mais da metade das três mil pessoas que seguem a página sorriram junto a ele.
ResponderExcluirO projeto é sensacional, sem palavras!! Aos organizadores, meus parabéns!
Que lindo!! Já conhecia o projeto, porque tenho alguns amigos em comum com a Duda, mas ainda não acompanhava a página. Achei que tivesse sido feito somente para a G2 e depois sido abandonado. Sinceramente, fico muito feliz que não seja assim e que, pelo contrário, ele esteja se expandindo. Elas têm muito do que se orgulhar, a iniciativa é brilhante e de uma sensibilidade rara nesses dias. Me lembrou muito uma página que sigo no Facebook, "Humans of New York", que tem um formato parecido (foto e um pouco da história de vida de alguém), mas entrevista e fotografa crianças, mendigos, doutores, imigrantes e qualquer um que esteja em Nova York. É linda, recomendo-a.
ResponderExcluirEspero conseguir realizar um trabalho desse naipe na minha g2
Bruna
Se há uma coisa que eu acho interessante nos dias de hoje é o fato de vivermos em ambientes cada vez mais cheios, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais silenciosos. O mundo à nossa volta é lotado de pessoas com histórias interessantes e nem nos damos conta disso porque temos medo, ou talvez preguiça, de puxar conversa. Tenho que admitir que sou uma dessas pessoas!!! Entretanto, o texto acima serviu para colocar no “papel” curiosidades que sempre permearam a minha mente. Para mim, é inevitável: se estou na rua, vou começar a me perguntar para onde vão tantas pessoas, o que elas têm a dizer, qual são as suas histórias…
ResponderExcluirNão conhecia o projeto, mas, sem dúvida, é uma iniciativa louvável e que nos faz ver que o mundo é muito maior do que o nosso universo particular.
=)
ExcluirSuper acompanho a página e a admiro muito. Eu acompanho uma página no Facebook que são super famosas: SP Invisível (https://www.facebook.com/spinvisivel?fref=ts) e RIO Invisível (https://www.facebook.com/rio.invisivel?fref=ts). Elas abordam a vida de moradores de rua. Por estarem frequentemente em nosso dia a dia, nos faz sentirmos bem perto daquela realidade e é incrível como essas pessoas, que são vistas como objetos, tem muita história para contar e muito a ensinar.
ResponderExcluirNão sei se a página "Amigos Ocultos" foi inspirada nessas outras citadas, mas o que deixa mais interessante é o quão próximo estamos dessas pessoas e, mesmo assim, os tratamos como meros funcionários que estão dispostos a nos servir.
Bianca, quando se é leitor do mundo cada partícula do universo pode nos inspirar a ser coautor de uma história. Para o criativo, não interessa saber quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha. =)
ExcluirTemos o hábito de pensar que um dar "bom dia"significa de missão cumprida com aqueles por que passamos em nossa rotina diária. Assim, ignoramos as mensagens que muitas vezes essas pessoas tentam nos passar com os olhos, os gestos, e até mesmo com o tom de voz com que respondem nosso cumprimento. Existem (incríveis) universos inexplorados dentro de cada um. Pobre daquele que passa a vida tão imerso em si próprio que se torna incapaz de reconhecê-los.
ResponderExcluirSempre percebo que os funcionários são muito calados, não interagem e apenas fazem o seu trabalho. Me sinto mal com essa atitude que eles mesmos definiram e que não fazemos nada para mudar. Não conhecia esse projeto mas já gostei de cara. Eu sou muito a favor das relações de igual para igual, sem hierarquias, seja para com domestica da minha casa ou a faxineira do meu trabalho. Todos somos humanos, temos historias interessantes, temos sonhos e até mesmo dons. Parabéns pelo grande projeto. Tenho certeza que mudaram a alegria e prazer do dia a dia deles.
ResponderExcluirMuito legal essa iniciativa das alunas, o desenvolvimento desse projeto tão incrível! Acompanho a página e fico impressionada com todas as histórias de vida dos funcionários. Espero que a página continue no ar, pois é fundamental dar voz para aqueles que possuem tantas histórias bacanas para compartilhar com a gente e que muitas vezes não são ouvidos. Parabéns pelo projeto!
ResponderExcluir