segunda-feira, 23 de março de 2015

A geração dos frustrados profissionalmente.



E quando você chega no emprego que queria, no cargo que sempre estudou para ter
 e percebe que está infeliz e perdido.? 
Tarde demais para mudar? Já se familiarizou com essa situação?
 Pois bem, é comum entre os jovens de hoje.


Uma boa escola, depois uma excelente nota para passar no vestibular, depois a universidade, o estágio na empresa dos sonhos, o diploma, a pós graduação, a promoção tão esperada, um MBA e finalmente o topo, uma diretoria, presidência, o “ser chefe” demorou, mas chegou. E é esse o caminho do sucesso e da felicidade ensinado para nós desde que nos foi feita a pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Acontece que muitas vezes o fim desse caminho resulta em jovens infelizes profissionalmente, mas conformados graças ao afunilamento mental feito pelas instituições de ensino da sociedade brasileira. A maioria dos brasileiros encara essa situação do descontentamento profissional como algo que “faz parte da vida”. Só que não deveria fazer. Mesmo.
Se eu pudesse voltar no tempo hoje, jamais teria feito faculdade. Sim, economizaria tempo, estresse e dinheiro. Sou publicitária e trabalho com comunicação online. A faculdade não me ensinou a escrever bem. Não me ensinou a ser eloquente com os clientes. Não aprendi a usar o Photoshop e nem a desenhar bem na faculdade. Não aprendi sobre Google AdWords e sobre as redes sociais na sala de aula tão pouco. Na faculdade, não obtive nenhum tipo de inspiração criativa e não aprendi a falar outras línguas. Mas aprendi um bocado nos cursos livres que já fiz. Nas aulas de teatro perdi a vergonha de falar em público e a me expressar. Nas palestras sobre tecnologia eu me vi curiosa para pesquisar mais sobre o assunto por conta própria. Viajar me ensinou mais duas línguas. Assistir um filme, ver uma exposição, uma peça e passar o fim de semana num festival me deram um montão de ideias. Se eu pudesse voltar no tempo hoje faria muitos cursos livres sobre tudo o que realmente gosto, desde história e filosofia, até programação de sistemas e por que não, culinária? Poderia até parecer uma bagunça aos olhos de uma empresa pouco visionária, mas com certeza hoje eu seria muito mais completa e realizada.
Claro que algumas pessoas nascem com uma vocação e utilizam a faculdade como ferramenta essencial nesse processo. Estudar o que gosta torna qualquer pessoa o melhor profissional de todos os tempos. Ok, já sabemos. Mas nem todo mundo nasceu pra isso. Provas. Testes. Pra quê? Quando você finalmente pode escolher o que quer fazer da sua vida lhe é apresentado um leque de cursos de graduação em que você obrigatoriamente deve escolher um. Nem todo mundo se encaixa nesse mundo tão limitado. Pessoas talentosas são jogadas de um lado pro outro como marionetes porque um dia lhe disseram que esse é o caminho certo a seguir.
Quem disse que a moça que comprou uma máquina de costura porque gosta de fazer alguns reparos é menos importante do que a que está na faculdade estudando Fashion Design? Ou que o rapaz que tem talento como artesão e que faz móveis lindos de madeira é menos importante do que o outro que estuda administração de empresas? “Ah é que com o curso de graduação você vai ter um trabalho melhor, vai ganhar mais dinheiro.” - Será? E até que ponto esse raciocínio vale a pena já que é a sua felicidade que está em jogo?
As pessoas não param e pensam no que estão fazendo. Tenho certeza que tem muita gente que abre a boca pra falar cheia de orgulho da sua formação, da carreira, mas que senta todo dia na mesa do trabalho e pensa “que saco”. E pronto. Foi-se uma vida.
Quem foi você? Que diferença você fez? Trabalhou bastante? Fez bastante dinheiro na sua carreira promissora? Que bom, parabéns.
Mas e ai?
A conclusão é que você nunca deve se acomodar e nunca deve parar de procurar uma resposta. Porque se você acha que já tem uma resposta para o que quer fazer da vida, é porque você está no caminho errado. O sentido da vida é exatamente o contrário. É buscar as perguntas. É se questionar. É parar e pensar que nem tudo precisa seguir uma exatidão, um caminho certo. É perceber que quando se está tendo a mesma opinião da maioria, você talvez deva pensar de um outro jeito. É se perguntar sobre tudo o tempo inteiro. E enquanto isso, escolha um trabalho que gire em torno da sua vida e não o contrário.
Mari Rivas

16 comentários:

  1. A primeira vez em que li esse texto, decidi que iria fazer Letras, mas precisamente o curso de Formação de Escritor, como disse em sala uma vez. No entanto, comecei a pensar e pesquisar o que os meus escritores preferidos tinham feito de faculdade. Aqueles mais antigos, na sua maioria, eram formados em Direito, e os mais novos em Publicidade ou Jornalismo. Depois de pesquisar, entendi que era uma questão de ampliar o seu mercado de trabalho. Eu posso ter uma formação, fazer algo acadêmico porque a "sociedade manda" (ou os meus pais haha), ou então para abrir um leque de possibilidades maior na minha vida também. Então,sim,acho que temos que fazer o que amamos e criar um equilíbrio entre nossas paixões e a forma de ganhar dinheiro. Foi por isso que escolhi Comunicação, ela vai me permitir escrever, não da mesma forma como a literatura faria, obviamente, mas vai. E poderá também me ajudar a explorar a minha criatividade. Acho que o segredo é unir o que gostamos com as oportunidades do mercado. É claro que farei coisas que não gosto, mas com certeza, a maior parte me dará prazer.

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  2. Esse é um texto que, embora toque profundamente em mim, consegue me confortar no final. É sempre ler que "nem tudo precisa seguir uma exatidão, um caminho certo", ainda mais quando o mundo inteiro parece exigir de você o contrário, surpreendentemente. A vida é feita de erros e acertos e, por isso, é claro que ela não será uma linha reta, uma certeza pré-definida. "O caminho se faz ao caminhar", não é? O engraçado - tragicômico, na verdade - é que estamos o tempo todo procurando essa segurança de não errar, não se arrepender, não sofrer - quando não há nada mais natural. Por algum motivo estranho, talvez soberba, parecemos não aceitar nossa própria imperfeição e inconstância e, em vão, tentamos lutar contra essa natureza. Se parássemos para pensar, veríamos a beleza de não ser uma tabela bem definidinha, burocrata, arquivo de repartição. Mas provavelmente estamos mais ocupados tentando nos encaixar no que se espera de nós. Por isso, é ótimo lembrar, de vez em quando, que é normal e permitido ser quem a gente é, mesmo que isso não seja o que é cobrado de nós :)

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  3. Esse texto toca perfeitamente no assunto que tenho tido muito desconforto ultimamente. Desde que me formei da escola tenho estado nessa incessante busca pelo "o que que você vai querer fazer quando se formar?" E quando eu acho que cheguei numa resposta boa o suficiente, a vida vem a lava todas as minhas certeza ralo abaixo. E ai me encontro novamente na estaca zero. Ler esse texto me deu um sentido maior de segurança, de que é melhor não ter certeza de nada, do que ter que se acomodar numa certeza que não te agrada. Acho que essa busca profissional é eterna, nunca vamos definir o que queremos fazer pelo resto da vida. E isso é fantástico. Embora seja socialmente desejado que alguém escolha uma unica profissão para toda a vida, ninguém merece ter o mesmo trabalho pra sempre! De tempo em tempo é necessário se reinventar. E no momento que aceitarmos isso teremos mais paz com as nossas escolhas, sabendo que nenhuma delas precisa ser eterna.

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  4. Pessoas, creiam: pratiquem o verbo reinventar. Sempre. Muito. Tudo que vcs estão a aprender hoje, amanhã já estará obsoleto. Quanto mais informação e conhecimento vcs adquirirem, maiores serão as oportunidades de se manterem na crista da onda.

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  5. Outro dia estava conversando com um amigo que me contou sobre um curso de produção audiovisual que ele tinha feito. Esse curso durou 2 anos e não garantiu um diploma de graduação, mas trouxe um emprego e, além disso, ele poderá fazer uma pós normalmente, mesmo que ele não tenha entrado na faculdade. Mas nem todo mundo sabe disso, hoje em dia nossa sociedade impõe o estar numa faculdade, porque se você não está em uma, se você não tem um diploma de graduação, você não é ninguém. Mas espera aí, os tempos mudaram, hoje o mercado é de quem SABE fazer e não importa se você estudou na melhor faculdade do mundo ou se você aprendeu em casa, na internet.
    Essa frase "Nem todo mundo se encaixa nesse mundo tão limitado." me impactou bastante, pois é a mais pura verdade. Ainda mais para quem acabou de sair do Ensino Médio e tem que decidir o que você irá fazer para o resto da vida. Vamos abrir o leque, conhecer um pouco de cada coisa, se encontrar!! E mesmo aquele curso que você escolheu não está mais legal, você viu que não era bem o que você queria, ainda há tempo de mudar!

    Letícia Figueiredo - 13h

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    1. Bingo, Letícia. É isso aí. Corra atrás de seu sonho, realize-se. O resto virá junto.
      =)

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  6. Gostei muito do texto, principalmente do último parágrafo. As pessoas estão sempre buscando certezas, caminhos certos (o que geralmente quer dizer já traçados), estabilidade, previsibilidade. Preferem a certeza à dúvida. E não é surpreendente— a dúvida é desconfortável, é assustadora e às vezes até desesperadora. Mas é necessária, e mais, é natural. Sempre desconfiei de pessoas que tinham muita certeza de tudo. Eu não as entendia! Como elas podiam ter opiniões tão fixas, tão decididas? Eu passei a minha vida inteira mudando de ideia sobre tudo. Hoje vejo isso como algo positivo, estou disposta a pegar a estrada menos viajada para encontrar minhas respostas, sem esperar que elas se tornem certezas ou que nunca mudem. Até porque acho que seria bastante sem graça.

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  7. Se soubessem o quanto eu já pensei em desistir desse sistema determinado pela sociedade que nos faz perder uma vida para sermos infelizes. Ao mesmo tempo que é difícil saber se vale o risco de largar e não saber se serei feliz com o que sempre desejei.
    Um dia, estava me questionando sobre esse tema com um amigo, que já tem seus quarenta e tantos anos, fez o que sempre sonhou e mesmo assim é infeliz. Ele me disse: Bianca, aproveite que você é jovem e tem todos os sonhos a sua frente, pois cada sonho realizado, é menos um sonho.
    Com esse conselho, passei a valorizar meus sonhos e sempre criar novos, independente da minha idade, para sempre ter algo que me mova. Ninguém disse que a vida é fácil, mas o que a torna fascinante, é o fato de não sabermos o que esperar dela.

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    1. Perfeito, Bianca. Um dia de cada vez, valorizando cada despertar do sol. =)

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  8. Quando escolhi fazer jornalismo, muitas pessoas tinham discursos prontos sobre como a profissão era difícil, sobre como o mercado de trabalho era restrito e sempre diziam que eu devia escolher outro curso, algum me traria mais dinheiro, e depois, quem sabe, fazer o que eu realmente gosto. Antes do ano do vestibular, cogitei essa possibilidade, mas depois percebi que meu sonho de entrar para a universidade poderia se tornar um pesadelo se eu seguisse o que os outros diziam e não meu coração.
    Vou para as aulas com satisfação por que sei que estou fazendo o que gosto e fico cada vez mais feliz quando percebo que minha caminhada está dando certo, quando recebo elogios em relação ao meu trabalho, quando alguém me fala: "nossa, Gisele, você nasceu pra isso!".
    E o melhor de tudo, é que hoje eu sei que não é porque eu estou fazendo essa faculdade que eu não posso ter outras mil possibilidades na vida. Quando fiz iniciação científica no Museu Nacional - UFRJ, durante o ensino médio, realizei vários trabalhos sobre a atuação de Bertha Lutz na sociedade. Bertha foi uma mulher que trabalhou com meio ambiente, política, direito, feminismo, entre outras muitas áreas. Sem dúvida, ela foi e será uma inspiração. Para mim, todo conhecimento é válido, toda experiência é um aprendizado e espero continuar sempre pensando assim!

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  9. Esse texto parece que limpa os nossos para-brisas para enxergarmos melhor no meio dessa tempestade que, às vezes, a vida se torna.
    Eu sinto que eu fui criada para ser uma coisa. E eu estava indo bem até. Eu seria um perfeito produto desse capitalismo que vivemos. Esforçada, condicionada a ter uma cabeça fechada e simplesmente (re)produzir o "certo". Eu tava indo bem... mas acho que eu "dei defeito". Algum parafuso saiu do lugar. De repente eu não queria mais aquilo pra mim. Comecei a pensar, a enxergar, a filosofar s2. Ferrou. Enlouqueci? (in)Felizmente ainda não. Não gostei do caminho que minha vida ia seguindo e resolvi Mudar. Ferrou ao quadrado. Fiz minha escolha e parti pra pensar "fora da caixa". Foi mais difícil do que eu imaginava - não é fácil sair. Sou uma novata nesse novo mundo; um projeto de pensadora. Mas um dia os projetos saem do papel e se tornam reais! - assim eu espero. Há uma longa estrada pela frente. Eu poderia me tornar um produto bem sucedido do sistema, mas totalmente frustrada, ou eu posso me tornar um projeto criativo, mesmo que mal sucedido, mas realizada. Ainda estou um pouco presa. Livrei-me de alguma correntes, mas de qualquer forma elas deixaram marcas. Agora, o próximo passe é encontrar a chave para abrir a cela. Se é verdade a frase "Nada que vale a pena vem fácil", então eu acho que estou no caminho certo. Ferrou ao cubo.
    :D

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    1. Ferrou nada, Jaqueline. Pelo contrários. Vc está a soltar-se dos ferros que prendiam sua mente. Jogue-se no mundo e caminhe um dia de cada vez em direção as possibilidades infinitas que a vida oferece para quem é leitor do mundo.
      =)

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  10. "Quem foi você? Que diferença você fez? Trabalhou bastante? Fez bastante dinheiro na sua carreira promissora? Que bom, parabéns.
    Mas e ai?
    A conclusão é que você nunca deve se acomodar e nunca deve parar de procurar uma resposta. Porque se você acha que já tem uma resposta para o que quer fazer da vida, é porque você está no caminho errado. O sentido da vida é exatamente o contrário. É buscar as perguntas."

    Adorei esse texto, acho que descreve perfeitamente a postura da sociedade diante do quesito “ser alguém”.
    O que quer dizer “ser alguém” E por que querer ser “alguém”?
    A sociedade exige um diploma, um estrutura X, um estilo de vida Y… Exige ter um objetivo de vida, mesmo que esse objetivo não se relacione em nada com o que se realmente quer.
    Porque, afinal, o que é mais importante: ser o que você quer ou ser o que querem ou esperam que você seja?
    Quero viajar, quero amar, quero conhecer, quero estudar, quero ajudar, quero poder fazer a diferença – com sorte, mais de uma vez –, quero escrever, ouvir uma boa música… Preciso de um diploma pra fazer isso? Não sei, sinceramente. Tudo na vida, na minha opinião e também pela maneira com que fui criada, exige estudo e esforço. Mas estudo não é sinônimo de faculdade. Esforço tampouco pode ser medido pelas notas de uma prova.

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  11. Carlos de Miranda - 13hdomingo, outubro 04, 2015

    Sempre buscando as postagens mais antigas, e sempre agradecendo por tê-las encontrado.
    Se tem alguém com capacidade de se reinventar, esse alguém sou eu. Reinvenções forçadas ou espontâneas, todas eles me trouxeram tanta coisa boa! Não saberia listar todas elas, mas sei que estão aqui, por todos os lados, em todos os lugares por onde passei, as que trouxe comigo e as que ficaram. Esse excelente texto me ajuda a perceber o quanto ainda me encaixo na geração dos frustrados, mas com um pé na geração dos que vão à luta. Ir à luta é a minha rotina, meu ponto de vista, meu objetivo e as ganas que me estabeleci. É difícil viver em um mundo com pressões por todos os lados e você não se se sentir à vontade para ser o que quiser na hora e no momento certo. Qual o momento certo?

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