terça-feira, 14 de outubro de 2014

Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados têm sempre um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves  <  >  Foto:   Luizinho F - orgulhoso de ser professor de bagunça e de leitura do mundo.

3 comentários:

  1. o maior problema do ensino no Brasil é esse, somos obrigados a aprender tantas coisas que não vamos usar, e temos que decora-las enquanto poderiam estar nos ensinando o principal, que vai nos ajudar a pensar com a nossa própria cabeça e criar um raciocino individual a partir disso.

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  2. Meu professor de geometria no 3º ano contou uma vez de um aluno dele que não parava quieto durante as aulas. Toda hora levantava para ir ao banheiro, beber água, não prestava atenção na matéria. Esse aluno acabou fazendo Dança e trabalha como bailarino. Não importa qual a linha ideológica do colégio, sem dúvida no 3º ano a hiperatividade desse garoto foi reprimida. Arrisco dizer que ninguém se preocupou de verdade em entender o porquê da agitação ou, mais importante ainda, como transferir esse potencial para algo produtivo.

    Fazendo eco pra Rachel, o problema do ensino no Brasil é essa falta de interesse real no aluno. Parece que só futuros engenheiros e advogados são contemplados em propagandas de colégio, e aliás acho muito feio comercializar sonhos assim, do ponto de vista dos pais. Um recente da rede pH coloca três jovens em idades diferentes - o mais jovem tem "MED 2027" escrito na cara. Não sei se mais gente achou essa abordagem meio absurda ou se parece natural mesmo. Enfim, muitas reformas na educação brasileira precisam ser feitas, mas a maior delas deve ser ideológica, mais humana.

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  3. Nossa, me vejo perfeitamente nessa postagem. Por mais que ame a minha antiga escola, pelos professores que conheci lá e os amigos que fiz, preciso reconhecer que ela passa (bastante) do ponto. Os alunos da área de Humanas - se não quiserem fazer Direito - são tacitamente diminuídos diante dos incríveis médicos e, principalmente, engenheiros. Foram inúmeras as vezes em que nos reunimos para discutir sobre isso, mas, no final, alguém acabava cedendo e falando "você já sabia que ia ser assim quando decidiu estudar aqui". Eu praticamente não tinha aulas das matérias de que mais gostava, como História, Português e, principalmente, Literatura (1 vez na semana, mais ou menos). Em compensação, tinha 8 aulas de Física e talvez umas 7 de Matemática por semana. E era muito frustrante saber que eu precisava me sujeitar àquilo para adquirir um conhecimento inútil, que atrofiaria logo depois que eu saísse da escola, como, de fato, aconteceu. Ainda mais se considerarmos que apreender tudo aquilo tomava o tempo que eu poderia estar usando para fazer coisas que realmente fossem fazer a diferença para mim. Eu ainda não usei Pontes de Wheatstone para nada na minha vida. Ou vetores. Ou qualquer coisa de exatas além das operações básicas.
    O método de ensino no Brasil precisa mudar. Acho que todos sabemos que o que se valoriza aqui é a quantidade, e não a qualidade. Qual o valor de passar tudo aquilo? Por que o aluno deveria se dedicar? Muitos professores não se interessam em conquistar o aluno, cativá-lo, mostrar como o que lhe é ensinado pode ser útil para a sua vida... Eles só querem dar o conteúdo e te preparar para o ENEM (outra coisa, na minha opinião, absurda). Dane-se o que é, você só precisa saber o suficiente para acertar um número x de questões, conquistar uma boa classificação e virar um troféu para a escola exibir e atrair mais alunos. O futuro das outras pessoas não é algo com que se brinca. E muitas "escolas" o fazem, porque, em vez de procurar incentivar o aluno, encorajá-lo a seguir em frente e apontar caminhos em uma fase crucial da sua vida, preocupam-se em ensiná-lo a acumular informações e ativá-las nos momentos certos, quais sejam, vestibulares. "Escolas" que funcionam dessa maneira são empresas, não escolas. E eu sinto muitíssimo em saber que é essa mentalidade torpe que domina o cenário da educação no país, na qual o estudante é só um negócio. Escola deveria formar para a vida, não informar para o ENEM.

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